segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Festejar à distância



Depois de ter passado o ano a encher o saco do benfica – tive a infelicidade de assistir in loco à derrota a contar para o campeonato, na Luz, nos Barreiros, em Coimbra e há duas semanas novamente na Luz (estes dois últimos acompanhado pelo meu filho, que embora tenha nascido em Lisboa, é sócio e adepto do Marítimo. E é SÓ do Marítimo).


Pese embora a inauguração do estádio, a verdade é que pouco mais do que a eterna certeza de que vamos ganhar (aquela que não denunciamos a ninguém, mas que interiormente nos alimenta e nos faz sonhar). Os números dos últimos desafios não podiam ser mais penalizadores para o nosso lado e as exibições que vi em Arouca e em Chaves não me deixavam muito confortável.


Mas quem ama, sofre. Lá saí do trabalho, não sem antes responder às provocações benfiquistas: “Então vão ser quantos desta vez?”…


Saí rapidamente do trabalho às 19h00 e segui para o metro, seguindo-se o comboio. Raios partam a sorte, o comboio tinha de atrasar logo hoje. Passo na churrasqueira (hoje ninguém faz jantar) e para cúmulo, o elevador também estava de greve. Subo as escadas duas a duas (vivo num quarto andar e atiro-me para o computador (sim, sou Inácio, confesso) e ainda oiço a mulher gritar “parece que és doido” e nem respondo.


Está tudo ligado. O jogo vai começar. O frango que se lixe, afinal está morto e pode esperar pelo intervalo. Eu já estou pronto. Digo ao puto para ir vestir já o pijama, pois jantamos ao intervalo. 


Está o miúdo ainda a enfiar a cabeça na camisola do pijama , estou eu já a berrar a plenos pulmões “GGGGGGGOOOOOOOOLLLLOOOOOOO”. Vem o miúdo seminú a correr pela casa “A sério, pai? A sério?” E gritamos os dois GOLLOOOO.  Que bom, marcámos cedo e isto pode afectar os gajos, pensei eu. Mas por outro lado, há demasiado tempo por jogar…. Porra, mas nunca estás contente, pergunto-me. Pois, parece que não. Bem, melhor estar a ganhar do que nada. Vamos ver no que isto dá.


Já lado a lado com o miúdo (pijama entretanto vestido),vejo o Bessa isolar-se para a baliza... Vai, vai, vai… porrraaaa, falhou, sobra para o Ghaza, remaaaataa… Aiiiiii, sacana do guarda-redes… Epá, mas estamos a criar perigo. Os gajos estão a abrir espaço. 


Canto na direita, Raúl cabeceia Gooo--- mas não, porra. Ganda azar…. Que merda, podíamos estar a ganhar por dois. 


Contra-ataque, Xavier vai isolar-se, é agora, é agora… fora de jogo??? Fora de jogo??? É sempre a mesma bosta, este era certinho. “Ó pai, não estava, pois não?” Não filho, isto é sempre para o mesmo lado…


Do nada, remate com tabela no Gonçalo Guedes e bola no saco… murro na parede (desculpa lá o estrondo, vizinho, mas aconteceu…). Mas que nojo, mas que sorte. Não tinham feito nada e marcam assim?? E ainda oiço o comentador dizer que foi um golo idêntico ao do Marítimo… 


Intervalo. Bora lá matar o frango outra vez. Quase me engasgo para ver a 2ª parte desde início. Mal acabo de me sentar, bola na trave... ai jassuuss… que susto. Já passou. O puto entretanto chega (não domina ainda a arte de engolir a comida sem mastigar). Ainda bem, assim poupou-se a assistir à bola na trave. Mas conto-lhe o que aconteceu. O jogo passa por uma fase morna, mas com os gajos a carregar. O tempo teima em não passar. Raio do relógio que não anda. Aquela defesa do Gottardi ao cabeceamento do Rafa… o miúdo põe as mão à cabeça e grita: “Tomaaaa, ganda defesa, devem pensar…!!”


Canto, Edgar marca para o meio e aparentemente com pouca força. O plano da TV abre à medida que a bola se direcciona para a área e vejo dois dos nossos no meio dos centrais benfiquistas. A bola passa, Maurício acerta na bola e golo. GGGOOOLLLOOOOOO. Eu e o miúdo gritamos GOLO três vezes seguidas, como se tivéssemos ensaiado uma coreografia, cerrando os punhos ao mesmo tempo. 


Depois, foi sofrer, o relógio que não andava. As pulsações a acelerar. O meu filho às tantas já dizia que sentia as pernas tremer por causa dos nervos. É bom que sintas isso, o sabor da vitória será melhor. E acabou. Ganhámos. Sem espinhas. 


Abraço-me ao puto, que assistiu ao meu lado muito desanimado ao descalabro do jogo da Luz. Agora foi a nossa vez. Juntos.


Bora agora ao Restelo. Mas amanhã, vou de peito cheio para o trabalho, Obrigado Maurício. Obrigado Marítimo.